sexta-feira, 4 de março de 2016

Sobre a pós-ironia

Em inglês, na Wikipédia, temos dois verbetes que conduzem ao assunto: Post-Irony e New Sincerity.

É uma ideia bem trabalhada no romance Graça Infinita (Infinite Jest), do qual já comentei aqui alguma vezes. Consiste numa tentativa de recuperação da sinceridade e busca por uma comunicação genuína entre artista e receptor, que caracterizou a arte...bem, desde sempre, até o século XX:

As vanguardas literárias, a partir mais ou menos de 1960 (cf., por exemplo, tudo do Thomas Pynchon e Macunaíma do Mário), passaram a ironizar a realidade, distorcê-la em humor negro que até então era inovador, tanto no âmbito crítico como no estético.

Caçoar da televisão, dos Beatles, de uma parte da cultura brasileira, das intrigas amorosas da classe média (Nelson Rodrigues), etc. foi uma forma de inovar e ao mesmo tempo construir conteúdo significativo a longo prazo.

Mas então, a ironia deixou de ser vanguarda e passou a ser lugar-comum. A vemos na cultura pop banalizada, onipresente. Como usá-la, então, para trazer algo edificante, se tornou-se apenas uma ferramenta de reprodução do entretenimento raso?

A solução vanguardista foi a pós-ironia. Trata-se de conceber o mundo como um lugar irônico, porém buscando uma tentativa de superação desse mar defensivo por meio de espécie de jornada espiritual, de busco do Sentido da Vida. Chamo a ironia de mar defensivo, pois é uma "saída para tudo": é como bancar o idiota: você se torna imune a quaisquer críticas quando não as leva a sério.

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Acaba de vir uma epifania: se a pós-ironia é uma tentativa de superação do mundo irônico, ainda faltam livros que tratam o tema em mais de um personagem, e com os personagens dialogando de forma não irônica. E como será isso? Creio que será algo meio Irmãos Karamázov, mas será interessante ver tal situação operando em um meio irônico. 
Algo do tipo: imagina Dostoiévski cruzando com Hermes e Renato, onde o russo tenha um pouco mais de participação de mentalidade além de ser espécie de "luz no fim do túnel".

Em Graça Infinita, o personagem pós-irônico é Mário Incandenza. E Don Gately. Mas os dois nunca se cruzam...

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Retirei alguns memes que lidam com o tema do ótimo "site de artes/humanas" (estou sendo pós-irônico) The Philosopher's Meme. Falarei mais sobre eles em outro post...



Eis um meme pós-irônico em ação.



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