sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Burocaos (2)

Cenário: porões do Palácio do Planalto, acessados por um túnel secreto que parte do Palácio da Alvorada, residência da Presidenta. Uma sala limpa e iluminada, toda branca. Ao centro, uma maca com um corpo coberto por um lençol.
DILMA: Como está o procedimento?
NECROMANTE DA ABIN: Está tudo quase pronto, Excelência. O gel será aplicado pela manhã. O teste em ratos, como Vossa Excelência sabe, foi bem-sucedido. Semana passado realizamos o teste em um porco, com a mesma eficiência. Temos certeza de que também dará certo em um corpo humano.
DILMA: Ela era bem velha, e seu corpo já estava bem decomposto. Agora parece nova.
NECROMANTE DA ABIN: Usamos a pele de uma mulher de meia idade morta por um ataque cardíaco. Os órgãos são de uma mulher mais nova ainda, que teve um AVC. Não é problema, já que o cérebro é original.
DILMA: Ainda bem que fizemos aquele acordo com a Inglaterra. Essa ressurreição não poderia vir em melhor hora.
NECROMANTE DA ABIN: Devo alertar para possíveis falhas psicomotoras. O cérebro estava conservado no vinagre há anos. Os neurônios mais rasos podem estar danificados. Mas o funcionamento geral do corpo estará garantido pela aplicação do gel seguido pela descarga...
Entra um soldado com vestes pesadas de guerra e um fuzil na mão. Um capacete com vidro escuro esconde a metade superior de sua face.
SOLDADO: Senhor, a lancha está no aguarde.
NECROMANTE DA ABIN: Certo. Já estou indo, me espere lá.
SOLDADO: Sim, senhor.
O soldado sai.
NECROMANTE DA ABIN: Excelência, devo ir. Por favor, não fique ansiosa. Nossa equipe fez todo o possível para o Evento ser livre de imprevistos. Amanhã pela tarde ela estará viva novamente. E o melhor, mais nova do que esteve antes de morrer.
DILMA: Eu sei. Vi a qualidade orgânica dos ratos renascidos. Mas não há como esvaziar a ansiedade num momento desses. O país depende do sucesso do Evento. E se falhar...temo pelo derramamento de sangue.
NECROMANTE DA ABIN: Não vai falhar. Aposto minha vida. Agora, devo ir. Com sua licença.
O necromante sai da sala.

Dilma, antes de sair, resolve espiar o corpo que jazia sobre a maca. A cara estava muito boa, aparentando quarenta anos. Fizeram uma ótima reconstrução. Aquela noite passaria bem devagar para Dilma, na expectativa para a manhã seguinte. Do resultado do Evento viria a solução para o problema que incomodava toda a cúpula executiva da Presidenta. Uma massa de servidores públicos estava causando pânico nos mercados, suas demandas indigeríveis para a atual conjuntura. E não havia ninguém para enfrentá-los. A não ser ela, deitada morta nos subsolos Palacianos. 
Margaret Thatcher precisava voltar à vida.

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