quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ética e estética são um só

6.421 É claro que a ética não se deixa exprimir. 
A ética é transcendental.
(Ética e estética são um só.) 
Ludwig Wittgenstein, Tractatus Logico-Philosophicus








(Wittgenstein I)

Após ler o diálogo "A literatura como vontade ou representação" de Kaio Felipe, me voltou à memória o obscuro aforisma "Ética e estética são um só" de Wittgenstein. Os personagens do diálogo não parecem ter em mente a percepção lógicoempirista  do filósofo austríaco. Quero aqui desconstruir o valor do texto de Kaio, para depois resgatá-lo com humor.

Ética busca sugerir uma normatividade, apontar certas ações como devidas e outras como indevidas. No cotidiano, ela aparece na função apelativa da linguagem, palavrões, tom de voz, etc. Quase nunca aparece nas próprias palavras, mas na retórica.

[exemplo de transição]
P: Vamos ao Buda Bar hoje?
R: Hoje é frevo boiola [gay].

Estética lida com experiências e a forma como são vividas. Preocupar-se com ela é pensar como uma audiência irá receber certo conteúdo na mais imediata subjetividade (apreensão dos sentidos e alteração de estado de espírito). No cotidiano aparece como o que se vive significativamente. Todas as experiências significativas têm uma dimensão estética.

OK, avancemos! No exemplo acima, você pode identificar a ética? É fácil porque se sabe que há muitos homens héteros que não gostam de ir a festas GLS. A ética está nessa preferência. Mas suponhamos que nossa sociedade não mostrasse casos como esse. Não veríamos ética nenhuma no exemplo. [ética está contida na estética]

Mas se a base para que esse jogo surja está em nossas experiências significativas, como traçamos a distinção entre o que é significativo ou não? A unidade de medida dessa balança nada mais é que a ética. [a estética está contida na ética]

Saltando para o diálogo de Kaio, os personagens se mostram metafísicos juvenis ao esquecer que na vida real estética e ética são um só. Logicamente, não é possível dizer que Schopenhauer ou qualquer um priorizou uma ou outra por ser tolice crer em uma destilação de nossos critérios avaliativos [ética] e da estreita circunstâncias em que foram formadas [estética] .

Nenhuma obra literária prioriza ética ou estética, porque autor e leitor não conseguem sair do mundo e entrar no território onde uma ou outra são átomos lógicos que conseguem construir proposições além do nonsense.

(Wittgenstein II)

Opa! OK, OK; mas a discussão para os três personagens não foi significativa? Eles certamente não estavam pensando da mesma forma que eu, e talvez até fossem me satirizar por querer me referir ao mundo real...


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