terça-feira, 30 de abril de 2013

O anti-simulacro - pt.1

O professor de sociologia Jean Baudrillard  foi um dos primeiros a tratar do tema da simulação cultural como estruturante ético. A ética burguesa [pós?] moderna sempre teve o hedonismo como valor e parte da vida prática. O que houve, diz Baudrillard, foi que ele cresceu tanto que suplantou outros valores, como a metafísica, o filosofar, a religião e a honra.

Na verdade, até falar de "hedonismo" dessa forma não convém. Para tratar do seu objeto de pesquisa, Baudrillard recorre a tornar sua fala ela própria o objeto da crítica. Ele está "jogando o mesmo jogo". As razões não são muito claras, mas como ele mesmo diz em entrevista: "Sou um dissidente da verdade. Não creio na ideia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses."

No século XXI estamos vendo uma produção massiva de produtos culturais que podem ser acessados qualquer hora do dia pela Internet. A Rede possui material infinito para entreter uma vida. Esse material pode mesmo ser chamado de cultural? Não no sentido clássico. 

Antigamente, qualquer produto cultural estava ligado à vida daqueles que o consomem, podendo ser usado para ilustrar um pouco de como vivia uma comunidade ou sociedade, ou uma classe.

Para tratar de cultura de forma sociológica - como a existência da cultura se desenvolve socialmente - não podemos mais utilizar essas categorias sociológicas clássicas, diz Baudrillard. Elas perderam toda sua utilidade por não fazerem referência a coisas significativas (nos seus termos, ao real). 

O que substitui esse quadro é o simulacro. Basicamente quer dizer que a sociedade de consumo se tornou um motor autótrofo. Vemos filmes, ouvimos música, lemos livros para passar o tempo. Eis o limite; não se faz relação do que se consome com um sentimento de referência a algo fora do plano da experiência imediata.

O simulacro é o reflexo do desencantamento do mundo e do politeísmo de valores. É o campo onde se consome a cultura, infinitamente. É a diversão pela diversão, a informação pela informação. Fim da referência.

Fazer crítica, por exemplo, virou fazer propaganda de uma opinião.

Na próxima parte vou sugerir o anti-simulacro como oposição bizarra a essa situação!

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