quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A sociologia é conservadora?


Zoe Crawford, ativista do PETA, se fingindo de churrasco.


Ao ler a chamada de uma notícia do G1[1], fiquei pensando no que motiva uma pessoa a participar de uma organização como o PETA. Na minha cabeça, é simplesmente ridículo tentar convencer o mundo a não comer carne e a tratar animais como a ONU quer que tratemos seres humanos.

Mais ridículo ainda é se fantasiar de “churrasco” no meio da rua em Sydney achando que vai chegar alguém e se converter, ao olhar a cena e pensar: “É mesmo, carne humana é igual a carne de boi. Melhor parar de comer”.

No entanto, cabe olhar para o sentido da palavra “ridículo” aí. Significa, em última instância, incompreensível. Não entra em nossa cabeça o porquê da atitude. “Falta do que fazer”, “perda de tempo”, são um dos clichês usados para criticar.

Mas, claro, todas nossas tramas políticas podem ser elevadas à ridicularidade! É muito fácil classificá-las como fúteis. Mas achar que temos que justificar o que fazemos é um dos grandes sintomas da doença moderna.

Olhando para o movimento Marcha da Maconha, logo falamos que há tantas coisas mais importantes, e as pessoas gastando seu tempo com isso! Também se critica o governo assim: perseguem maconheiros enquanto há estupradores e homicidas soltos por aí. Mas o mundo humano é mais complexo, muito do que acontece é mal pensado e não conseguimos justificar. O mundo moderno passou a encontrar mais idiotices correndo soltas!


É difícil entender as motivações políticas das pessoas em muitos casos[2]. Weber, ao pensar nas ações humanas, cunhou o termo wertrationalität, ou razão voltada ao fim em si, e não na relação com o meio. No caso da ativista do PETA, ela agiu pensando no seu ideal de mundo (animais e humanos amiguinhos), sem considerar a melhor forma de atingi-lo (ou considerando menos a zweckrationalität, que é razão voltada à relação meio-fim).

E realmente, pensando em nossas ações políticas (se é que temos), elas não poderiam ser consideradas ridículas? Talvez o papel da sociologia seja mostrar o quão ridículo a ação política é. Porque, se ela deu certo, a conjuntura histórica a justifica, e se deu errado, também! Poderíamos deixar a onda da história nos levar, sem precisar do esforço do nado!

Mas minha conclusão é mais clínica: não faz sentido chamar a sociologia de conservadora ou progressista. Olhando para minhas ações políticas, fica claro que elas não têm nada de sociológico. Elas têm muito é de humano! O campo sociológico é totalmente distinto do campo político, ao vermos política na sociologia, matamos ela.[3]



PS: ao terminar o texto, me surgiu uma das conseqüências de se estudar Ciências Humanas por tanto tempo (no meu caso, 8 anos seguidos até agora). As palavras vão ficando insuficientes para o que se deseja expressar! Talvez por isso que certos autores sejam tão prolixos.


[2] No auge da razão, é difícil entender QUALQUER motivação política! O budismo e o liberalismo, ambos articulam nessa direção. Mas isso fica pra outro texto...
[3] Mas claro que a frase “Toda a sociologia é política” está correta! Mas ao conseguirmos identificar as partes políticas, devemos remediar o dano ou então ignorá-lo, danificando o material sociológico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário