quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Retrato de um assassino - Adam Lanza parte 1


No dia 14 de dezembro, sexta-feira, ocorreu mais um massacre seguido de suicídio nos Estados Unidos. No evento, morreram 20 crianças e o atirador matou também sua mãe.



Sobre o jovem Adam Lanza, de vinte anos, pouco se especulou. Ou melhor, se especulou muito em apenas uma direção. Psicólogos e criminologistas – na verdade a voz dada a eles na mídia – sugerem apenas que Adam tinha sérios problemas mentais e que não conseguiremos atingir os motivos que o levaram ao seu ato final polêmico, pois a racionalidade de Adam seria, no mínimo, torta.

Ora, não é preciso ir muito fundo na sociologia para perceber isso! Quando a sociologia estava no berço, Durkheim já falava em comportamentos doentios (patológicos) em sociedades, que seriam aqueles “exceção”, e não “regra”.

Ao arrotarmos alto no ônibus ou cometermos o ato de Adam Lanza, estamos agindo como doentes sociais, obviamente em graus muito distintos.

Agora, desejo sugerir uma visão mais profunda e especulativa sobre Adam, calcando em dois conceitos usados na sociologia: anomia e ambivalência dos sentimentos (algo retirado da psicanálise, e aproveitado principalmente pela sociologia clínica).

Adam Lanza foi retratado pelos colegas como um rapaz extremamente tímido, que não conversava com ninguém e mal podia olhar nos olhos de outros. No grupo escolar, ele não era percebido pelos outros: não atraía a atenção e não era coagido a fazê-lo. Ele talvez pudesse ter uma infinitude de desejos frustrados, vontade de beijar as meninas, de ser um cara bacana e divertir os outros. Ou achar aquilo tudo – a “vida jovem” – algo chato e sem apelo, as pessoas sendo marionetes de um estilo de vida sem cor nem sabor. Uma outra alternativa (e bem possível se tratando de um jovem) é a ausência de reflexão sobre sua situação: Adam nem pensava em sua identidade, apenas “chegou lá”.

Adam Lanza cometeu o atentado em uma fase crucial para jovens: o pós-escola. Nessa fase costuma-se acentuar reflexões sobre nossa identidade, e o sentimento de “o que faço me define” fica mais agudo. Adam pode ter começado a pensar mais nesse assunto, e não ter visto grandes perspectivas: ao invés de seguir com uma vida que não iria lhe conceder muito (ele podia ter expectativas altas demais, ou nenhuma), preferiu ter um “fim magistral” e ficar marcado na história, mesmo negativamente.

A anomia aparece aqui de três formas: na vida silenciosa de Adam, na sua decisão de morrer e na sua decisão de matar vários, inclusive crianças, antes de seu óbito. A anomia é o sentimento de não pertencer a sua sociedade, mas que reflete a “inação” desta em puxar os indivíduos para dentro! Ou seja, a própria forma de funcionar da escola abre espaço para haver indivíduos como Adam.

Ao querer morrer, Adam não viu nada bom o suficiente para se desejar a permanência na Terra: se desconectou das coisas que geralmente são valorizadas e impulsionam o apreço à vida. Nesse caso, o mais visível sintoma é o assassinato de sua própria mãe e de crianças (seres inocentes). A anomia nesse caso foi intensa? Se normalmente seu sintoma é o suicídio, a que corresponde o massacre?

(continua) 

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