sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Fatos Sociais - “Trote na Universidade de São Carlos”


Émile Durkheim cunhou o termo "fato social"

Semanas atrás um amigo me contou uma história que achei um belo exemplo do funcionamento do que Durkheim chamou de “fato social”. Ele em seus escritos deixou bem claro, assim como outros como Parsons o fizeram depois, que existem três dimensões constitutivas do homem: a biológica, a psíquica e a social. Parsons colocou mais uma, a cultural, mas que para meu propósito pode ser juntada com a dimensão social. Com isso, quer-se dizer que orientamos nossas ações em relação a três coisas:
- nosso corpo (comer, ir ao banheiro, dormir)
- nossa cabeça (vontade de sair tomar uma cerveja, pensar no próximo movimento do jogo de xadrez, lembrar de ligar pra namorada)
- nosso ambiente (nossos costumes, nossa economia)

A sociologia se preocupa com a última (pelo menos antigamente, hoje ela mistura tudo): com o homem em relação a sua sociedade, o que esta altera naquele e vice versa. Claro que isso é bem complicado, tem muitas variáveis em jogo. Mas voltando a Durkheim, ele chamou de “fato social” tudo aquilo que exerce influência no homem e sua maneira de agir e pensar, e que vem de fora, de sua sociedade.
É genial refletir que muito do fazemos é de caráter “Maria vai com as outras”, não é mesmo? Quanto será de nossos prazeres, nossos gostos, nossos interesses, nossos objetivos e crenças de vida, nossos entusiasmos, nossas tragédias, nossas motivações e nossas ações existem por causa das outras pessoas? Para a sociologia, é impossível caracterizar o homem sem estar em relação com outros homens.
E o caso da UFSCar mostra isso de forma impressionante:
Em um belo dia de trote de um curso qualquer, os veteranos tramaram o seguinte: foi feita uma fila de calouros em frente a um banheiro público da universidade. Entrava um por vez no banheiro, e lá dentro os veteranos ordenavam: “Coloque sua cabeça dentro da privada e dê descarga”. Obviamente, o primeiro da fila protestou em frente à situação absurda. Os veteranos então lhe pediam: “Ok. Molhe sua cabeça aí na pia, e saia com cara de puto”. A situação se repetiu com os três seguintes da fila, que saíram com a cabeça molhada e parecendo bravos, mesmo sem terem se banhado na privada. Incrivelmente (ou não), os próximos da fila passaram a achar normal enfiar a cabeça na privada e dar descarga, e assim fizeram. Ninguém mais questionou (ou poucos o fizeram)!
Eis o fato social agindo: porque os outros fizeram, um comportamento antes mórbido, doentio, patológico, passou a ser considerado aceitável, normal, sadio. 


CORREÇÃO: como fiquei sabendo, o caso não foi na UFSCar, mas na USP - Ribeirão.

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