quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pierre Bourdieu mostrando inteligência

               O ultrarradicalismo de uma denúncia sacrílega sobre o caráter sagrado da ciência, que tende a lançar suspeita sobre todas as tentativas de fundar, ainda que sociologicamente, a validade universal da razão científica, leva naturalmente a uma espécie de niilismo subjetivista:  assim é que o princípio de radicalização que inspira Steve Woolgar e Bruno Latour os leva a forçar até o limite ou reduzir ao absurdo análises  que, como aquelas que propus há mais de dez anos, esforçam-se por escapar  à alternativa entre o relativismo e o absolutismo. Lembrar a dimensão social das estratégias científicas  não é reduzir as demonstrações científicas a simples exibicionismos retóricos; invocar o papel do capital simbólico como arma e alvo de lutas científicas  não é transformar a busca do ganho simbólico  na finalidade ou na razão de ser únicas das condutas científicas; expor a lógica agonística  de funcionamento do campo científico  não é ignorar que a concorrência não exclui a complementaridade ou a cooperação e que, sob certas condições,  da concorrência e da competição é que podem surgir os 'controles' e os 'interesses de conhecimento' que a visão ingênua registra sem se perguntar pelas  condições sociais de sua gênese.

BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: Sobre a teoria da ação. Papirus Editora, 2011, p. 86.

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