quarta-feira, 25 de abril de 2012

O sujeito fragmentado

"Reelaborar-se a cada circustância." Tal prescrição sintetiza a noção de subjetividade pós-moderna?

Sim e não.

Compreender a ironia trágica dessa resposta ("Sim e não.") é um passo a frente para desvelar o sentido do eu fragmentado: se tomarmos como prescrição o "reelaborar-se", este assume a postura dos conceitos rígidos que o pós-modernismo busca relativizar. A "atitude pós-moderna" exige uma postura epistêmica (e seu reflexo na postura estética) de <<precaução>> em relação ao conhecimento, imagens, cultura, etc.

Vejo uma conexão entre esse posicionamento defensivo (uma vez que prepara o sujeito contra hipervalorizações de crenças) e o que Bruce Lee chamou de estar conscientemente inconsciente ou inconscientemente consciente: o nirvana! Uma das exigências do nirvana é encarar o sujeito como esse fragmento condicionado pelo "texto" (sua conjuntura de existência e desenvolvimento).

Após ler o que ficou conhecido como "Caso Sokal", percebi que o terreno da epistemologia anda bagunçado. Sokal é um físico que escreveu um texto relacionando física quântica com pós-modernismo, e conseguiu que ele fosse publicado em uma revista (Social Text). Em seguida ele escreveu afirmando que o texto era pura balela sem sentido, e queria apenas provar que em revistas "pós-modernas", se aceitaria publicar qualquer coisa sem o devido "rigor intelectual".

A meu ver, Sokal tem alguns critérios que o pós-estruturalismo (fundação epistemológica do pós-modernismo) tenta desmistificar:

1. O conhecimento deve ser algo "universal", ou seja, todos devem aceitar proposições consideradas conhecimento, as que não o fazem são tolas, chatas, pouco instruídas ou, a palavra mais clássica, irracionais.
2. A rede conceitual desse conhecimento é também universal, independente de seu interlocutor, e possui uma semântica concreta indeslocável.
3. Se a semântica de certo conceito for deslocável, ou seja, se o sujeito for ativo para o conhecimento, e não somente passivo, então esse conceito não tem validade para o conhecimento.

Existem diversas outras "críticas" à postura intelectual de Sokal (compartilhada por muitos outros). No entanto, os dois lados estão errados. De um lado, vemos um pessoal que tenta expandir o conceito de ciência, para abordar uma imensidão de epistemes (sistemas de conhecimento), o que possibilita a legitimação de textos como o de Sokal publicado na Social Text. Entretanto, o que esse pessoal faz não deve ser visto como uma "deslegitimação", mas como um "enquadramento". Encarar a ciência como possível de ser exercida sem uma dose de "arbitração" do sujeito é ingenuidade: para existir, é necessário um "recorte" em um <<sistema de referência>>.

Porém isso não tira sua qualidade. O que faz é simplesmente notar o "lugar" da ciência no conhecimento. A ciência é de fato uma subárea do conhecimento. O pós-modernismo atenta para as diversas outras áreas que também têm qualidade. Ele que possibilita por exemplo, associar aforismas de Bruce Lee com problemas de subjetividade!

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